Informação e diagnóstico precoce: Como combater a alta taxa de IST no público LGBT+

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O Sistema Único de Saúde desde sua criação tem a missão de promover a universalização de acesso à saúde. Contudo, apenas em 2013 que surgiu a primeira Política Nacional de Saúde Integral LGBT.

Outras ações já haviam sido realizadas para o enfrentamento da epidemia de HIV na década de 1980, mas a Política Nacional foi a primeira que reconheceu as reais demandas dessa população.

Alguns dos objetivos da Política Nacional são:

    • A sensibilização dos profissionais a respeito dos direitos de LGBT+, com inclusão do tema da livre expressão sexual na política de educação permanente no SUS.

 

    • A inclusão dos quesitos de identidade de gênero e de orientação sexual nos formulários, prontuários e sistemas de informação em saúde.

 

    • A garantia dos direitos sexuais e reprodutivos e o respeito ao direito à intimidade e à individualidade, com o estabelecimento de normas e protocolos de atendimento específicos para as lésbicas e travestis.

 

    • A manutenção e o fortalecimento de ações da prevenção das infecções sexualmente transmissíveis (IST).

Perfil epidemiológico das IST na população e sua relação com a saúde masculina

As Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) vêm aumentado no decorrer dos anos, com importante mudança no perfil da população. Em estudo sobre IST, em que foram revisados 8.560 prontuários de pacientes, observou-se que houve predomínio do sexo masculino (93,1%), adultos jovens (menos de 40 anos) e da raça branca (75,2%). Houve equivalência entre os heterossexuais, homo e bissexuais). Entretanto, o percentual de indivíduos que tiveram IST anterior é maior para os homossexuais e bissexuais.

Quanto ao nível de escolaridade, todos com bom nível, sendo 50,4% com ensino médio e 23% de universitários.

Verificou-se também que todos os grupos de heterossexuais, homossexuais e bissexuais apresentaram variabilidade de parceiros e que esta porcentagem vem aumentando nos últimos anos, reduzindo quase para a metade aqueles com um único parceiro, associados ao não uso de preservativos.

Esse comportamento aumenta a vulnerabilidade em contrair a IST para todos os grupos. Visto que mesmo o uso consistente do preservativo não é suficiente para prevenir a transmissão de alguns agentes como o HPV, o herpes genital e outros.

Entre as IST de maior incidência, sobressaiu a sífilis, com uma frequência de 48,6% e mais frequente em homossexuais. Na sequência, vieram a Tricomoníase, com 18,4%, a Aids, com 14,8% e a gonorreia, com 14,6% e mais frequente em heterossexuais. O HPV esteve presente em 500 usuários.

Aumento do câncer anal

A incidência de câncer anal vem aumentando nos últimos anos. Há muito se sabe que o comportamento sexual pode influenciar a incidência do câncer anal. Os fatores de risco identificados incluem a infecção por HPV, tabagismo, relações homossexuais e
imunossupressão após transplante.

O câncer anal é uma neoplasia maligna que inclui o carcinoma do ânus, câncer do canal anal e carcinoma anorretal. Os fatores de risco mais significativos são aqueles relacionados com o comportamento sexual, em particular, com história de relação anal receptiva.

Existem estudos mostrando que o DNA do HPV pode ser identificado na maioria dos casos de câncer anal, e a atividade viral contribui para a transformação maligna do epitélio anogenital.

Por isso, é importante realizar periodicamente exames para identificação e genotipagem do HPV. Assim, se descoberto no início, as chances de tratamento e acompanhamento são maiores, e evitam de evoluir para um câncer.

Como diagnosticar precocemente as IST?

Existem várias formas de se diagnosticar uma infecção sexualmente transmissível.

Normalmente o diagnóstico é feito quando o próprio paciente percebe que apresenta sinais e sintomas como pequenas bolhas, verrugas, secreções ou outros incômodos. Quando isso acontece é importante ir ao médico o quanto antes e não recorrer a automedicação. Na consulta, o profissional de saúde pode solicitar exames que vão apresentar com exatidão qual a IST presente, e se existe mais de uma, para que assim seja feito o tratamento específico.

É importante ressaltar que infecções como a Sífilis, o HPV (papilomavírus humano) e a tricomoníase podem estar presentes e serem transmitidas mesmo quando não há sintomas clínicos. Portanto, para diagnosticar esse tipo de infecção é preciso que o/a paciente faça o exame preventivo.

O diagnóstico molecular é o único capaz de detectar essas infecções precisamente, mesmo na fase assintomática. Assim, é possível tratar corretamente lesões como as causadas pelo HPV, que podem levar ao desenvolvimento de diversos tipos de câncer, como genital, anal e de garganta.

Permite também tratar adequadamente a Sífilis, infecção bacteriana que pode causar danos sistêmicos e neurológicos graves e que é de alta prevalência no país. Somente em 2019 mais de 152 mil brasileiros foram infectados, segundo o último boletim epidemiológico de sífilis do Ministério da Saúde.

Existem métodos tradicionais para detecção de IST e outros mais avançados. Com a biologia molecular é possível ter um diagnóstico mais rápido e preciso, pois ele rastreia o material genético do micro-organismo que está causando a infecção sexualmente transmissível. Sua principal característica é alta sensibilidade e confiabilidade do método, dependendo do kit utilizado é possível rastrear mais de 10 tipos de IST com apenas uma amostra biológica.

Além de ser um método avançado, já é também acessível. Existem vários laboratórios de biologia molecular no Brasil. Basta o médico ter em sua rotina a coleta da amostra do paciente e enviar a um laboratório molecular que fará a detecção dessa forma mais avançada.

Prevenção começa na adolescência

Ainda que já existam métodos de prevenção, identificação e cura das IST, há muitos fatores que dificultam o acesso da comunidade LGBT+ por conta da discriminação, intimidação, assédio, desaprovação familiar, isolamento social e violência, que ocorre principalmente com os mais jovens.

A população em situação de rua pertencente à comunidade LGBT+, na cidade São Paulo, está entre 5,3% e 8,9%. Já os que fazem uso dos centros de acolhimento estão entre 4,5% e 10,1%, segundo pesquisa da Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS) da Prefeitura de São Paulo.

A chegada dos jovens LGBT+ às ruas tem a família como um forte determinante de exclusão, isto porque são vítimas de preconceito e discriminação e acabam, por pressão, saindo de casa ou sendo expulsos.

A situação solidifica outras barreiras a vencer e reflete em muitos outros direitos que são negados a essa juventude, a exemplo do acesso e permanência na escola e no trabalho.

Imersa em um isolamento, essa juventude, em muitos casos, e por total falta de opção, são levados à marginalidade e à prostituição.

Diante desse cenário, a Unicef criou um programa chamado Viva Melhor Sabendo Jovem, em que jovens LGBT+ aconselham outros jovens e ampliam o acesso de adolescentes de 15 a 24 anos a testes de HIV, sífilis, hepatites B e C. Caso os exames identifiquem alguma IST, ocorre uma orientação contínua para o tratamento e prevenção.

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UNICEF Brasil

Seminário on-line sobre o tema

A Mobius Life Science, empresa brasileira de tecnologia em diagnóstico molecular, promove um seminário on-line inédito em que abordará a saúde masculina e como o diagnóstico molecular é fundamental para infecções sexualmente transmissíveis (IST).
Nosso convidado especial é o Dr. Vinicius Borges, médico infectologista voltado para saúde LGBT+, conhecido no Instagram como @doutormaravilha.

A participação neste seminário garante uma certificação de 2 horas.