O Sarcoma de Kaposi é um tipo incomum de câncer, muito raro há algumas décadas, mas que passou a ser visto na prática médica com alguma frequência após o surgimento da pandemia da Aids nos anos 80. Até então, era um câncer relacionado quase que somente em idosos, com a diferença que nos novos casos, o avanço da doença era extremamente rápido. O aumento da incidência de tratamentos que envolvem drogas imunossupressoras, caso dos pacientes de transplante de órgãos, também ajudou no aumento de casos desse câncer.
Mesmo que seja pouco fatal, o sarcoma de Kaposi é uma doença de evolução lenta e curso benigno, apresenta um índice de mortalidade alta entre os pacientes com o sistema imunológico comprometido. No entanto, os tratamentos disponíveis nos dias de hoje ajudam esses pacientes a levar uma vida satisfatória.
O que é o Sarcoma de Kaposi?
É um câncer que surge nos tecidos dos vasos sanguíneos e linfáticos. O principal sintoma é o aparecimento de manchas na pele, de coloração vermelha ou violeta, que podem se limitar a uma só área ou se espalhar pelo corpo inteiro. As lesões costumam ser assintomáticas, não doem nem coçam. O Sarcoma de Kaposi também é muito comum na mucosa oral, acometendo cerca de 30% dos pacientes. O palato (céu da boca) e a gengiva são os locais mais afetados. Nos pacientes com grave imunossupressão, o câncer pode se desenvolver em órgãos internos, com graves consequências que podem levar a morte do paciente.
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O Sarcoma de Kaposi afeta 15 vezes mais homens do que mulheres
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O agente causador
O sarcoma de Kaposi é causado por um subtipo de vírus da família do Herpesvírus, chamado herpes vírus humano tipo 8 (HHV 8) ou Kaposi sarcoma herpes vírus (KSHV). Embora seja clara a relação do vírus com a doença, apenas a infecção não é o bastante para que o tumor se desenvolva. Apenas 0,03% das pessoas infectadas chegam a desenvolver Sarcoma de Kaposi. O sistema imunológico de uma pessoa saudável é forte o suficiente para manter o vírus controlado, o que não ocorre em pessoas que utilizam medicamentos imunossupressores e portadores do HIV.
Infelizmente, ainda não se sabe como se dá a transmissão do HHV 8. No entanto, vários casos apontam para o contato sexual e a saliva contaminada como as principais vias para infecção pelo vírus.
As consequências para os imunossuprimidos
Ao contrário da forma clássica, o sarcoma de Kaposi nas pessoas com a imunidade debilitada é uma doença de rápida evolução que se espalha velozmente pelo organismo, causando significativa mortalidade.
Na maioria das vezes, o tumor causa apenas sintomas cutâneos. No entanto, dependendo da extensão da doença, pode chegar a alguns órgãos internos, principalmente no trato respiratório e gastrointestinal. As lesões podem se abrir e sangrar facilmente, além de causar ulcerações internas. No trato respiratório pode causar tosse com sangue ou escarro, falta de ar e dor no tórax. No trato intestinal, sangramento nas fezes, constipação ou diarreia, dor abdominal e hemorragias. Além de problemas para comer ou engolir, vômitos, inchaço severo nos braços, pernas, rosto ou escroto.
Tratamento
A escolha do tratamento dependerá muito do estado da doença além de outros fatores como número, localização e tamanho das lesões. E principalmente o estado geral de saúde do paciente. Para os pacientes com o sistema imunológico comprometido, o tratamento mais importante é manter o sistema imunológico saudável e quaisquer infecções relacionadas sob controle.
Em pacientes com Aids própria a medicação anti-HIV, conhecida como terapia antirretroviral altamente ativa (HAART), basta para reduzir as lesões do Sarcoma de Kaposi e manter a doença sob controle.
Os pacientes que fazem uso dos imunossupressores, os tumores podem desaparecer quando se suspende ou diminui a dosagem desses remédios. Entretanto, nem sempre isso é possível, restando opções de tratamento mais agressivas, como cirurgia, quimioterapia e radioterapia.
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A média de sobrevida de pacientes com Sarcoma de Kaposi é de 5 anos
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HHV6: outro vilão dos imunossuprimidos
O vírus herpes humano tipo 6 (HHV6) infecta cerca de 90% da população antes de dois anos de idade. Após a infecção primária, o vírus permanece latente em diferentes células e órgãos do corpo, como rins, cérebro e glândulas salivares. A reativação em portadores saudáveis é muitas vezes assintomática, mas em pacientes imunossuprimidos pode levar a sérias complicações.
Em pacientes transplantados, o vírus pode levar a um quadro grave de meningite, encenfalite, supressão da medula óssea, encefalopatia, febre, erupção cutânea, rejeição do órgão e, em casos graves, pode levar a óbito.
Em pacientes com Aids, a carga viral é aumentada, disseminando o vírus para todo o organismo e para os linfonodos, causando infecção em vários órgãos, pneumonite, retinite, infecção ativa do Sistema Nervoso Central (CNS) e também pode resultar em óbito.
O Diagnóstico Molecular para HHV6
O número de pessoas vivendo com o sistema imune comprometido têm aumentado progressivamente, trazendo consigo uma gama de novas doenças que antes eram raras, como o Sarcoma da Kaposi, e o aumento na incidência de doenças causadas por reativação de vírus oportunistas.
Só da família Herpes existem 8 tipos e todos eles causam problemas graves em pacientes imunossuprimidos, e consequentemente, maior morbimortalidade relacionada a essas infecções.
O diagnóstico molecular para o HHV6 é mais sensível, rápido e preciso quando comparado a outras metodologias. É um teste in vitro para a detecção quantitativa do DNA do vírus, ou seja, consegue mensurar a carga viral do paciente. Essa importante característica ajuda o médico a monitorar a doença, decidir qual o melhor tratamento a fazer e acompanhar se os medicamentos estão fazendo o efeito desejado.
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Em transplantados, a ocorrência do HHV6 pode chegar de 14 a 82% dos pacientes
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