A notificação sobre uma nova cepa de coronavírus, descoberta no Reino Unido e chamada de B117, foi feita pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 14 de dezembro de 2020. Desde então, outros 31 países também reportaram a sua detecção como Austrália, Itália, e África do Sul, inclusive o Brasil. A notificação foi feita à ANVISA em 31 de dezembro de 2020. Sabe-se que esta variante possui maior capacidade de transmissão e já representa cerca de 50% dos novos casos no Reino Unido.
Quais riscos a nova cepa representa?
O aumento da capacidade de transmissão viral é sempre preocupante, ainda mais quando se trata de um vírus que já possui uma taxa de disseminação tão grande que o levou rapidamente ao status de pandemia.
Até então, a cepa B117 adquiriu 17 mutações que a conferem maior transmissibilidade, sendo 70% mais transmissível que as detectadas anteriormente. Embora todas as faixas etárias sejam suscetíveis, os casos em pessoas abaixo dos 20 anos subiram rapidamente.
No entanto, a maior preocupação, relacionada ao aumento de transmissão, é que os sistemas de saúde público e privado não disponibilizam de equipamentos e profissionais necessários para atender a todos os infectados, elevando ainda mais as taxas de morbidade e mortalidade pela Covid-19. Apesar de existirem medicamentos que podem ser utilizados para controlar os sintomas da doença, nenhum é específico para a Covid-19 e por isso devem ser usados somente com prescrição médica.
Prevenção
A princípio, as medidas de prevenção permanecem as mesmas, como o distanciamento social, o uso de máscara e a higienização das mãos. Estes cuidados devem ser redobrados, sabendo do maior potencial de transmissão da nova variante. Mas, a principal medida de prevenção para a Covid-19 é a vacinação, que já está sendo realizada em vários países e está prevista para iniciar também no Brasil.
Vacinas para a Covid-19
Primordialmente, todas as vacinas têm como objetivo expor o nosso corpo a um antígeno que não causará doenças, mas provocará uma resposta imunológica que pode bloquear ou matar o vírus caso a pessoa seja infectada posteriormente. Existem pelo menos 8 tipos de vacinas contra o coronavírus SARS-CoV2 que são constituídas por diferentes tipos de vírus ou partículas virais (Tab 1).
Tabela 1 – O tipo de vacina depende do vírus ou parte viral que é utilizada na sua produção
Vacina de vírus | Vacina de Vetor Viral | Vacina de Ácido Nucleico | Vacina à base de proteínas |
---|---|---|---|
Inativado | Replicante | DNA | Subunidade proteica |
Enfraquecido | Não replicante | RNA | Partículas semelhantes a vírus |
Fonte: Rev. Nature (2020)
Eficácia das vacinas e administração no Brasil
As principais vacinas que já tiveram seus estudos concluídos e divulgados, apresentaram diferentes dados com relação à eficácia para o SARS-CoV-2 (tab.2).
Tabela 2 – Comparativo entre vacinas que tiveram estudos de eficácia concluídos para a Covid-19
Sinovac/CoronaVac | Pfizer | Moderna | AstraZeneca | Sputnik V | |
---|---|---|---|---|---|
Tecnologia | Vírus inativado | mRNA | mRNA | Vetor viral | Vetor viral |
Eficácia | 50% | 95% | 94% | 70% | 91,4% |
Armazenamento | de 2 a 8ºC | -70ºC | -20ºC | de 2 a 8ºC | De 2 a 8ºC |
Doses | 2 | 2 | 2 | 2 | 2 |
Em janeiro (17/01) a diretoria da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) liberou, com ressalvas o uso emergencial das vacinas de Oxford/AstraZeneca e da Coronavac®. Com a decisão, as vacinas já começaram ser aplicadas na população brasileira.
A CoronaVac® foi desenvolvida pelo laboratório Chinês Sinovac e que está sendo produzida no Brasil em parceria com o Instituto Butantan.
O Ministério da Saúde realizou a compra de 46 milhões de doses do Instituto Butantan conforme contrato assinado em 07 de janeiro de 2021. A primeira entrega de vacinas foi realizada no início de janeiro, o montante total será composto por doses produzidas no Brasil e importadas. As demais doses, que serão entregues em fevereiro, março e abril de 2021, terão produção nacional.
A Fiocruz realizou a distribuição de 2 milhões de doses da vacina AstraZeneca, desenvolvida pela Universidade de Oxford e que está sendo produzida na Índia, segundo o Ministério da Saúde. A princípio, as doses chegaram ao Brasil no dia 22 de janeiro e já foram encaminhadas aos estados.
Entendendo a Eficácia da CoronaVac®
De todos os números divulgados até agora pelo Butantan, podemos concluir que a eficácia da CoronaVac® se dará da seguinte forma:
- Reduz 50% dos novos casos de contaminação na população vacinada;
- Eficácia de 78% nos casos leves, aqueles que exigem algum cuidado médico;
- Redução de 100% dos casos graves, internamentos em UTI e morte pela Covid-19 em vacinados;
Vacinas existentes e a nova cepa
Os laboratórios e especialistas confirmaram que as mutações que ocorreram na cepa B117 não afetarão a eficácia das vacinas existentes. Nesse sentido, caso seja necessário futuramente as vacinas de RNAm podem ser modificadas para se tornarem efetivas também para mutações que ainda poderão surgir.
O que muda em relação ao diagnóstico da Covid-19?
Alguns métodos de diagnóstico podem não ser capazes de detectar a nova variante do vírus. Os métodos que são baseados unicamente na detecção da proteína spike, também conhecida como proteína S, podem resultar em falso negativo para a nova cepa, que não apresenta essa proteína. Isso ocorre, por exemplo, com alguns testes sorológicos.
Risco em não diagnosticar:
Desde já, o diagnóstico tardio impossibilita o isolamento adequado de pacientes assintomáticos e prejudica o tratamento dos sintomáticos, elevando ainda mais as taxas de transmissão e de morbidade. Isso tudo, sobrecarrega os Sistemas de Saúde no que diz respeito aos profissionais, EPIs e gastos com leitos hospitalares e medicamentos.
O Diagnóstico Molecular detecta também a nova variante de coronavírus B117?
O método molecular, continua sendo a melhor forma para o diagnóstico da COVID-19. Com a metodologia RT-qPCR é possível identificar os genes ORF1ab e gene N, que não foram impactados com as mutações da nova cepa do coronavírus SARS-CoV-2 VUI 202012/01.
Com a nova variante em circulação, é imprescindível redobrar os cuidados preventivos e realizar o diagnóstico correto, que inclui a detecção de novas variantes mutantes. Isso é fundamental para o isolamento dos infectados e prevenção de casos novos.
Saiba mais: https://mobiuslife.com.br/covid-19/
Referências
- https://www.nature.com/articles/d41586-020-01221-y
- https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2020-12/instituto-butantan-inicia-producao-da-vacina-coronavac
- https://coronavirus.butantan.gov.br/ultimas-noticias/vacina-feita-a-partir-do-virus-inativado-o-caminho-do-butantan-contra-a-covid-19
- https://agenciabrasil.ebc.com.br/radioagencia-nacional/saude/audio/2020-12/novo-tipo-de-coronavirus-chega-sao-paulo
- https://www.cnnbrasil.com.br/saude/2021/01/01/nova-cepa-esta-disseminando-mais-em-jovens-com-menos-de-20-anos-diz-medico
- https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/new-york-united-states-november-30-1864584652
- https://www.bbc.com/portuguese/brasil-55503749
- https://news.un.org/pt/story/2020/12/1736762
- https://www.news-medical.net/news/20200505/20258/Portuguese.aspx
- https://www.cnnbrasil.com.br/saude/2020/11/17/coronavac-e-segura-e-induz-rapida-resposta-imune-aponta-estudo
- https://www.cnnbrasil.com.br/saude/2021/01/12/coronavac-e-eficaz-segura-e-a-unica-vacina-que-temos-no-brasil-diz-ex-anvisa
- https://www.cnnbrasil.com.br/saude/2021/01/13/fiocruz-espera-distribuir-doses-de-vacina-contra-covid-19-no-dia-18