O leite é um líquido muito nutritivo, com proteínas de alto valor biológico, carboidratos, triglicerídeos importantes e vitaminas. É o meio de cultura ideal para o crescimento de microrganismos, principalmente as bactérias. Muitas delas, quando encontram condições ideais de temperatura e de nutrientes, passam a se multiplicar atingindo números elevados. No entanto, a imensa maioria das bactérias é de natureza boa e inclusive protegem o nosso organismo das bactérias patológicas, aquelas que causam doenças.
A lei determina um limite de bactérias para o leite. O leite brasileiro obedece aos padrões internacionais para a quantidade de bactérias que é 100 mil bactérias por ml. Dentre as milhares de bactérias que o leite pode ter, pouquíssimas podem causar algum problema. Mas se não há problema tantas bactérias, por que temos que fazer o controle microbiológico?
A qualidade do leite é definida por parâmetros de composição química, características físico-químicas e higiene. As exigências de qualidade e higiene para os leites crus e derivados lácteos são definidas com base em postulados estabelecidos para a proteção da saúde humana e preservação das propriedades nutritivas desses alimentos. Do ponto de vista de controle de qualidade, o leite e os derivados lácteos estão entre os alimentos mais testados e avaliados, principalmente devido à importância que representam na alimentação humana e à sua natureza perecível.
O ser humano é o único mamífero que toma leite durante toda a sua vida e não é à toa. O leite materno, primeiro alimento do bebê, é essencial para seu crescimento e desenvolvimento orgânico e funcional. É rico em gorduras, vitaminas e minerais indispensáveis para o desenvolvimento do sistema imunológico, preparando o organismo do bebê contra várias doenças.
Com o passar do tempo, o leite continua na dieta do homem, mas em quantidades menores. Os benefícios para a saúde são vários, dos quais, o mais importante é o fato do leite ser fonte de cálcio, mineral fundamental para boa formação dos ossos. Além do cálcio o leite também possui vitaminas, proteínas, potássio, aminoácidos e fósforo. Uma série de estudos envolvendo laticínios constata que o leite tem eficácia preventiva contra uma série de doenças como obesidade, insônia, artrose e a osteoporose.
Além disso, a indústria criou nichos de mercado com produtos para cada tipo de necessidade. É possível encontrar leite enriquecido com ferro e cálcio, com 0% de gordura, isento de lactose, com adição de fibras. Até com adição de melatonina, hormônio que regula os padrões do sono (lançado no Reino Unido como medicamento). Fica a critério do consumidor escolher qual o melhor produto para a sua necessidade.
É a higiene na hora da ordenha que reduz a quantidade de bactérias que entram em contato com o leite. O grau de contaminação e a composição da população bacteriana dependerão da limpeza do ambiente das vacas e das superfícies que entram em contato com o leite, por exemplo, baldes, latões, equipamento de ordenha e do tanque de refrigeração.
Existe um grande número de agentes de doenças infecciosas que podem ser transmitidas ao homem pelo leite. Os patógenos mais importantes atualmente são Salmonella sp., Escherichia coli patogênica, Listeria monocytogenes, Campylobacter jejuni, Yersinia enterocolitica e Staphylococcus aureus. No entanto, a maioria desses microrganismos patogênicos é destruída pela pasteurização.
A pasteurização é o tratamento térmico de um produto para matar bactérias patogênicas e reduzir a atividade enzimática. O objetivo é tornar o produto seguro para consumo e aumentar seu prazo de validade.
Muitos produtos lácteos fermentados e iogurtes contêm probióticos, cepas específicas de algumas bactérias que são benéficos à saúde, como os lactobacilos e bifidobactérias. Esses microrganismos ajudam no equilíbrio da flora intestinal, sistema imunológico e combatem alergias alimentares.
A flora intestinal é a maior comunidade de bactérias que habitam nosso organismo e podem influenciar a nossa saúde, resposta imune e até o humor. Estudos mostram que o consumo dos probióticos está associado a um aumento de lactobacilos e bifidobactérias, e na diminuição de espécies prejudiciais como a Clostridium perfringens, Salmonella typhimurium e a Escherichia coli. Sabe-se ainda que causam o aumento nos níveis de Imunoglobulinas A (IgA) nos proporcionando uma melhor tolerância imunológica.
Embora a maioria das alergias alimentares desenvolvidas precocemente na vida não persistam, algumas podem tornar-se permanentes. Um fator cada vez mais importante para determinar se uma criança irá desenvolver uma doença alérgica, seja alergia alimentar ou asma, é o nível de complexidade e os organismos específicos presentes em sua flora intestinal.
Presente originalmente em comunidades das montanhas caucasianas, o kefir foi descoberto no segundo milênio antes de Cristo. É o método de fermentação mais antigo que existe. Foram os médicos russos, estabelecidos na região do Cáucaso, que perceberam as qualidades dietéticas e terapêuticas desta bebida, tendo começado e empregá-la no tratamento de diversas doenças do aparelho digestivo e alargado o seu uso pelos países limítrofes.
Os grãos de kefir são uma colônia de microrganismos simbióticos imersa em uma matriz composta de polissacarídeos e proteínas. Diferentemente do iogurte que é fermentado apenas por lactobacilos, o kefir exige temperaturas mais baixas e é fermentado por mais de quarenta tipos diferentes de micro-organismos em sua colônia, incluindo as leveduras. Esta combinação de organismos microbianos vivos e metabólitos contribui para uma vasta gama de efeitos benéficos para a saúde. Tem sido demonstrado que os grãos de kefir são capazes de reduzir os níveis de lactose do leite através do processo de fermentação e também de colesterol presentes em até 84% após 24h de fermentação.