Um novo estudo encontrou outro potencial benefício do leite materno para bebês prematuros: proteção contra uma perigosa infecção.
Novas pesquisas descobriram que bebês são menos propensos a desenvolver uma doença intestinal chamada enterocolite necrosante (NEC) se eles tiverem os anticorpos imunoglobina A (IgA) do leite materno.
Esta informação foi publicada no jornal Nature Medicine, em junho de 2019, por pesquisadores da Universidade de Pittsburgh.
Eles descobriram que, como os anticorpos IgA se ligam as bactérias responsáveis pela doença, os bebês com o anticorpo têm maior chance de evitar NEC.
A notícia é importante principalmente para pais de bebês prematuros, os quais são mais propensos a ter NEC.
Pesquisadores dizem que estas novas descobertas podem ajudar a proteger bebês prematuros e encorajar médicos a ajudar os pais a terem acesso ao leite materno, mesmo que a mãe não esteja produzindo.
Muitos médicos já sabiam que bebês com NEC tinham a bactéria Enterobacteriaceae. Eles também provavelmente já sabiam que o leite materno era a melhor proteção para a doença.
Agora, os pesquisadores dizem que essas descobertas sobre IgA oferecem uma nova esperança na prevenção e tratamento dessa infecção perigosa.
A enterocolite necrosante é uma doença rara que ocorre de 1 a 3 em cada 1 mil nascidos vivos. É mais comum ser vista em unidades de terapia intensiva neonatal.
Mais de 90% dos casos ocorrem em bebês nascidos antes de 32 semanas que tem baixo peso ao nascer, menos de 1,5 kg. Bebês a termo podem adquirir NEC, mas apenas cerca de 10% o desenvolvem.
Bebês com NEC desenvolvem uma inflamação intestinal aguda e crônica. Seu microbioma, sistema intestinal imaturo, resposta imune e exposição a patógenos podem levar à sepse e a falência de múltiplos órgãos.
Os fatores de risco para NEC incluem:
O tratamento principal para NEC é com antibióticos. O intestino dos bebês prematuros tem a estrutura desenvolvida, mas as funcionalidades ainda são imaturas e mais fracas se comparadas com um recém-nascido a termo.
“O sistema imunológico do bebê prematuro não está totalmente formado e suas defesas ainda não são capazes de ‘lutar’ com o hospedeiro como o intestino de bebês a termo”, explica Dra. Misty Good, professora assistente de patologia pediátrica e imunologia da Escola de Medicina da Universidade de Washington.
Timothy Hand, PhD, autor sênior e professor assistente de doenças infecciosas pediátricas no R.K. O Mellon Institute para pesquisas pediátricas e a escola de medicina Pitt’s, avaliaram amostras fecais de 30 bebês prematuros com NEC e 39 bebês da mesma idade que não tinham NEC.
Especialistas ainda não sabem ao certo o que causa NEC. “A invasão bacteriana é parte disso, mas algo a mais ocorre antes do seu desenvolvimento que ainda não é compreendido”, diz Hand.
Durante o estudo, bebês de leite materno tinham mais bactérias intestinais ligadas a IgA do que aqueles com fórmula. Aqueles que desenvolveram NEC tinham maior probabilidade de serem alimentados por fórmula.
Com o passar do tempo, as crianças com IgA tinham uma flora mais diversificada e um intestino mais saudável.
Os pesquisadores também criaram camundongos que não conseguiram produzir IgA no leite materno. No nascimento, os ratos têm um desenvolvimento intestinal comparável a um bebê humano nascido em 24 semanas. Aqueles com leite livre de IgA eram tão suscetíveis à NEC quanto aqueles da fórmula.
A amamentação sozinha não é o suficiente para prevenir NEC – o leite tem que conter IgA, ressalta Hand.
Hand ficou mais surpreso ao descobrir que havia uma perda consistente e abrupta de ligação do anticorpo nas bactérias intestinais antes que a doença se desenvolvesse.
“Acreditamos que as bactérias podem estar evoluindo para escapar dos anticorpos do leite materno, mas eles também simplesmente podem se proliferar rápido demais e o anticorpo fica sobrecarregado”, diz o médico, em relação a esses casos em que a doença se desenvolve. “Quando as bactérias estão livres de anticorpos, suspeitamos que eles sejam mais capazes de invadir o hospedeiro”.
Especialistas não querem deixar os pais ainda mais ansiosos com as descobertas da nova pesquisa. Quando alguns não conseguem amamentar ou preferem não dar leite materno, existem outras opções.
Nos casos em que a amamentação ou o fornecimento do leite bombeado não é uma opção, o leite de doadoras é uma solução possível para os novos pais.
“Uma mulher nunca deveria sentir a desnecessária pressão sobre sua escolha em relação a dieta do bebê”, diz Hand. “No entanto, as mães de bebês prematuros devem saber que a fórmula tem um risco aumentado de NEC”.
Em alguns casos, o leite de doadoras tem sido associado a taxas de crescimento mais lentas em bebês prematuros. Embora a fórmula possa ser mais fácil de dar aos bebês, ela está ligada a um aumento substancial na incidência de NEC.
Pais podem decidir o que funciona para seu bebê depois de consultar seu médico.
“IgA é necessário, mas também não o suficiente para prevenir NEC”, comenta Hand. “O que estamos argumentando é que você pode querer testar o conteúdo de anticorpos do leite de doadores e, em seguida, direcionar o leite mais protetor para crianças com maior risco”.
Outro problema é que bebês prematuros não podem ser amamentados até a 34ª semana aproximadamente. Nesse período, são alimentados através de tubos com leite materno ou fórmulas.
Os pais que querem dar leite materno ao bebê prematuro devem começar a amamentar após o parto. Bombear a cada 3 horas pode aumentar a produção.
Mas nem todas as mães podem produzir leite se o bebê nascer prematuramente – e não é culpa delas, diz Good. Ela recomenda que as mães busquem consultores, enfermeiros da UTI neonatal para apoio.
“Leite materno é importante para um bebê prematuro, especialmente o primeiro colostro, então mães devem tentar salvar cada gota”, diz Good. “Talvez seja difícil especialmente no começo para o leite vir, já que o bebê nasceu prematuro, mas o leite materno é como um remédio para eles e é a coisa mais importante que uma mãe pode fornecer ao bebê que a UTI neonatal não consegue”.
Sheila Gephart, PhD, a principal pesquisadora do projeto NEC-Zero, disse que a maioria dos pais nunca ouviu falar sobre a NEC até que seu bebê a tenha. Nesse momento, é menos provável que absorvam informações críticas porque estão em um momento de crise.
“Médicos dizem que tem medo de contar aos pais sobre NEC porque eles não querem sobrecarregá-los ou assustá-los, mas os pais têm mais a perder se o bebê tem NEC e eles querem saber os riscos e os sinais de alerta”, disse Dr. Gephart.
“Compartilhar informações empodera os pais. Mães de bebês prematuros precisam ser informadas sobre o valor medicinal do leite materno – um tratamento que salva vidas – que é o mais adequado para fornecer”, diz.
Gephart acrescenta que a amamentação na primeira hora de nascimento, mostrou que as mães têm chances de sustentar o suprimento de leite durante os períodos em que o bebê corre risco de contrair a doença.
Dr Gail Besner, principal pesquisadora do Centro de Pesquisa Perinatal do Instituto de Pesquisa do Hospital Infantil Nationwide, afirma que mais precisa ser feito para prevenir o NEC.
“Amamentação previne NEC, mas mesmo com as melhores práticas de enfermagem, a NEC persiste”, disse Besner em artigo.
“Você pode fazer tudo certo e a NEC ainda se desenvolver. Precisamos de estratégias avançadas para prevenção e tratamento, se quisermos liminar a NEC da UTI neonetal”, comenta.