Nos últimos anos, o termo One Health vem ganhando espaço cada vez maior dentro das discussões científicas que tratam de questões ligadas à saúde e epidemiologia. No português, Saúde Única, o termo trata da integração entre a saúde humana, a saúde animal, o ambiente e a adoção de políticas públicas efetivas para prevenção e controle de enfermidades trabalhando nos níveis local, regional, nacional e global.
A expressão ainda é pouco conhecida fora do âmbito da saúde, mas os conceitos que o embasam são bem antigos. O médico patologista alemão Rudolf Virchow (1821-1902) já afirmava no século 19 que entre animais e a medicina humana não há divisórias; e nem deveria haver. E foi ele o responsável por cunhar o termo zoonose (doenças e/ou infecções transmitidas para o homem através dos animais).
Ao longo do século seguinte, cientistas ligados a várias especialidades constataram similaridade nos processos infecciosos causados por doenças em seres humanos e animais. No entanto, a medicina humana e a veterinária seguiram trajetórias independentes uma da outra. Somente nos últimos anos, que se teve início a um esforço de aproximação nos estudos entre essas duas áreas.
Com o lançamento da obra “Veterinary Medicine and Human Health” em 1984, o médico veterinário norte-americano Calvin W. Schwabe (1927-2006) discutiu e reforçou a importância da junção entre saúde humana, animal e ambiente. No livro, ele adota a expressão “One Medicine”, que mais tarde passa a ser conhecida como “One Health”.
No mundo, estima-se que as zoonoses causem 2,5 bilhões de casos de doença e 2,7 milhões de mortes anualmente
Em 2007, durante a Conferência Ministerial Internacional sobre Influenza Aviária e Pandêmica, realizada em Nova Deli, na Índia, que contou com a presença de representantes de 111 países e de 29 organizações internacionais, os governos e governantes foram encorajados a aplicar o conceito One Health, construindo pontes de ligação entre os sistemas de saúde humana e animal.
No ano seguinte, a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), a Organização Mundial de Saúde (OMS) e Organizações das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) passam a desenvolver estratégias conjuntas dentro do conceito One Health, com o objetivo de reduzir os riscos emergenciais e a disseminação de doenças infecciosas resultantes da interface entre animais, humanos e ecossistemas.
Enquanto as pessoas viverem próximas ou junto com animais – sejam eles de estimação, na pecuária ou selvagens – a realidade desse cenário é a iminência para doenças. À medida que o mundo de hoje se torna cada vez mais conectado, a necessidade de aplicar efetivamente o conceito One Health só aumenta. Não só para proteger pessoas e animais de doenças, mas também para impedir rupturas econômicas que podem acompanhar esses surtos de doenças.
O esforço ambicioso que o conceito One Health objetiva é reconhecido como um elemento-chave para manter as pessoas e os animais protegidos contra doenças para melhorar a qualidade de vida em todo o mundo.
Porém, essa conectividade acaba afetando diretamente a maneira de como pessoas, animais e o meio ambiente interagem.
A população está crescendo e se expandindo para novas áreas geográficas
Como resultado, mais pessoas vivem em contato próximo com animais selvagens e domésticos. O contato próximo fornece mais oportunidades para que doenças passem entre animais e pessoas
A terra sofre mudanças climáticas e aumentou o uso indevido da terra, como desmatamento e práticas agrícolas intensivas.
Interrupções nas condições ambientais e habitats fornecem novas oportunidades para doenças passarem para os animais.
Aumento de viagens internacionais e comércio.
As doenças e patógenos podem se espalhar rapidamente pelo mundo.
Essa conectividade pode levar a reemergência de muitas doenças. Por isso é necessária a abordagem One Health para entender melhor as zoonoses e doenças infecciosas. A priorização dessas doenças significa realizar vigilância, planejar atividades de resposta a surtos e criar estratégias de prevenção de doenças para reduzir a contaminação e mortes em pessoas e animais.
Por exemplo, a febre do vale do Rift (RVF) é causada pelo vírus RVFV que afeta seres humanos e ruminantes. É transmitido pela picada de mosquitos contaminados, pelo contato com o sangue do animal infectado ou ao beber o leite cru. Já causou vários surtos na África e no Oriente. O vírus pode causar doenças graves tanto em pessoas como animais. Ao impedir a RVF através da vacinação dos animais, menos pessoas serão infectadas por mosquitos portadores do vírus ou por contato direto com um animal doente, caso das pessoas que manipulam a carne no abate e veterinários. Além de proteger os animais em que as pessoas confiam como alimento ou fonte de renda.
5 doenças novas humanas surgem a cada ano. Três delas são de origem animal
Neste sentido, olhar o todo torna-se fundamental para garantir níveis excelentes de saúde. O One Health é um campo de conhecimento, de caráter multiprofissional e interdisciplinar que se refere a questões e problemas de saúde que transcendem as fronteiras nacionais, assim como seus determinantes e suas possíveis soluções.
Mais testes e monitoramento para detectar doenças em animais e pessoas
Referência: https://www.cdc.gov
…e fazendas seguindo padrões para proteger os animais, as pessoas que trabalham lá e o ambiente ao redor…
… ajudam a prevenir uma pandemia