Hoje em dia é comum evitar hospitais ou pronto socorro para se prevenir da contaminação viral. Entretanto, o risco de contrair infecções hospitalares nesses ambientes sempre existiu e se chama IRAS: Infecção Relacionada a Assistência à Saúde.
Primordialmente, ela pode ocorrer por diversos patógenos. Além dos vírus, as bactérias, fungos, protozoários e outros micro-organismos também podem infectar quem circula ou permanece nesses locais.
A infecção hospitalar atualmente é conhecida também como Infecção Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS). De qualquer forma, sua definição é: IRAS são infecções cuja aquisição está relacionada a um procedimento assistencial ou internamento.
Em suma, as IRAS são consideradas quando adquiridas após 72 horas da admissão do paciente e que se manifestam durante a internação, ou após a alta. Se houver infecção desde a admissão, a infecção é classificada quando há um agravamento do caso, isolamento de outro patógeno na mesma topografia (local), ou infecção por outro microrganismo em um sítio diferente do que originou o primeiro atendimento.
Alguns exemplos de infecção hospitalar são as chamadas de sítio cirúrgico (ISC), pneumonias hospitalares, como as pneumonias associadas a ventilação mecânica (PAV). Outro tipo comum são infecções do trato urinário associadas a cateter (ITU) e infecções da corrente sanguínea associadas a cateter (IPCS) são exemplos de IRAS.
Além destas, outras infecções adquiridas em ambiente de assistência, como a diarreia por Clostridium difficile e surtos de infecções virais adquiridas em hospitais também são IRAS. Portanto, à COVID-19, se adquirida em ambiente de assistência também deve ser notificada como IRAS.
No caso do SARS-CoV-2, a infecção hospitalar mais importante é aquela associada à ventilação mecânica, por se tratar de uma infecção de vias respiratórias que pode precisar desse tipo de suporte, mas também as infecções associadas à corrente sanguínea decorrentes da punção venosa. Além destas, as ITU também podem ocorrer, pois os pacientes de UTI que estão desacordados precisam fazer uso do cateter urinário.
A notificação de IPCS à ANVISA é obrigatória e deve ser realizada mensamente por hospitais com UTI dede 2014. Em 2016, tornou-se obrigatória também a notificação de ITU, PAV e ISC por cirurgia cesariana. A notificação inclui ainda os marcadores de resistência microbiana das respectivas infecções.
Número de hospitais que notificaram de PAV em UTIs. Brasil 2012-2018.
Número de hospitais que notificaram de ITU associadas à cateter vesical de demora (CVD) em UTIs. Brasil 2012-2018.
Número de hospitais que notificaram de IPCS associadas à cateter venoso central (CVC) em UTIs. Brasil 2012-2018.
Número de hospitais que notificaram de ISC ao menos uma vez em 2018. Brasil, 2018.
De fato, existe o risco de contaminação em ambientes de saúde por microrganismos simples ou multirresistentes, que são aqueles que não respondem a qualquer terapia antimicrobiana. De tal forma que o principal exemplo de multirresistência são as superbactérias e estas são as mais relevantes clinicamente:
– A klebsiella pneumoniae carbapenemase (KPC), bactéria que produz a enzima que confere resistência aos antibióticos do tipo Carbapenens;
– O Staphylococcus aureus resistente à Meticilina (MRSA) e
– O Enterococcus resistente à Vancomicina (VRE)
A princípio, estas superbactérias são mais comuns em ambientes hospitalares e o seu desenvolvimento está diretamente ligado ao uso indiscriminado de antimicrobianos.
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As medidas de precaução são aquelas que devem ser tomadas para evitar a disseminação de microrganismos patogênicos, e consequentemente, a contaminação por eles em ambientes de saúde.
Segundo a ANVISA, elas podem ser do tipo: precaução padrão; precaução de contato; precaução de gotículas ou precaução de aerossóis.
Tais medidas devem ser realizadas de acordo com a suspeita clínica e os resultados laboratoriais, pois para cada patógeno é indicada uma precaução específica, de acordo com a sua capacidade de transmissão.
Em hospitais esse controle é realizado pelo Serviço de Epidemiologia e Controle de Infecção Hospitalar (SECIH), que é também responsável pelo envio de cepas resistentes aos laboratórios centrais e pela notificação dos casos aos órgãos de controle epidemiológico.
Entenda mais sobre as medidas de precaução com as recomendações da ANVISA.
A notificação é o informe detalhado de casos de doenças e agravos de notificação compulsória aos órgãos de controle de saúde. Ela é obrigatória por lei e deve ser realizada pelos responsáveis por laboratórios, instituições de saúde, bem como por profissionais da área e pelos Serviços de Controle Epidemiológico e Infecção Hospitalar (SECIH) de todos os hospitais. Mas, a notificação desses casos também pode ser realizada por qualquer cidadão.
Confira a lista das doenças e agravos de notificação compulsória e o prazo para a realização da notificação.
O diagnóstico molecular é fundamental para a prevenção do desenvolvimento de mecanismo de resistência bacteriana aos fármacos. Com ele é possível detectar rapidamente o material genético do patógeno por meio da extração e amplificação de DNA e RNA diretamente das amostras do paciente, sem necessidade de cultura prévia.
A princípio, existem kits que não precisam sequer de extração prévia de material genético. Isso agiliza a rotina laboratorial e a liberação dos resultados das análises. O resultado rápido permite o tratamento adequado ao paciente.
Os kits de diagnóstico multiplex, realizam a detecção simultânea de diversos patógenos e alguns deles incluem a análise de resistência aos antimicrobianos no mesmo teste.
Com o diagnóstico molecular, é possível também, realizar a correta notificação dos casos de notificação compulsória, que são doenças que exigem rígido controle epidemiológico.
De fato, para a análise dos materiais genéticos de DNA ou RNA, a maioria dos testes necessita a extração prévia do material genético. Para isso, utiliza-se kits de extração de DNA e RNA. Em seguida, realiza-se a amplificação desse material com a enzima DNA polimerase, no caso de patógeno que possui DNA como material genético. Essa técnica é conhecida como PCR, que significa reação em cadeia da polimerase.
Todavia, para a detecção dos patógenos que possuem RNA como material genético, a enzima utilizada para a transcrição de RNA para DNA é a transcriptase reversa. Essa técnica é conhecida como RT-PCR e esse é o método utilizado para o diagnóstico do SARS-CoV-2, que causa a COVID-19.
Dessa forma, existem kits de extração de material genético que agilizam a rotina diagnóstica detectando simultaneamente DNA e RNA na mesma amostra. Sem dúvida, a extração de DNA de alto rendimento é realizada em apenas 30 minutos e é possível utilizar diversos tipos de amostras, desde frações sanguíneas à fluidos corporais.
Antes de mais nada, no mercado laboratorial já tem disponível kits multiplex que realizam a detecção simultânea de diversos patógenos para diferentes tipos de infecções hospitalares. Esses kits utilizam chips de tecnologia avançada, mas com princípio metodológico bem fundamentado, que é o dot-blot.
Este teste realiza a detecção de 24 patógenos, incluindo vírus e bactérias. Detecta inclusive os coronavírus MERS e SARS-CoV-2, o vírus Influenza H1N1 e a bactéria B. pertussis que causa a Coqueluche. Todos esses patógenos são de notificação compulsória.
Realiza a detecção de 36 patógenos que causam infecções de corrente sanguínea causada por patógeno comunitário ou IRAS de diversos sítios como PAV, ITU, IPSC e ISC incluindo a detecção de KPC, MRSA e VRE. Realiza também a análise de resistência aos respectivos antimicrobianos.
Nesse sentido, para este teste é possível utilizar amostras de colônias em meio de cultura, hemoculturas positivas e swabs de vigilância.
O kit de diagnóstico multiplex de gastroenterite bacteriana detecta o Clostridium difficile e outras 6 importantes bactérias.
A infecção hospitalar por esta bactéria é grave. Ao passo que o seu diagnóstico e monitoramento só podem ser realizados de maneira efetiva com auxílio do diagnóstico molecular. Primordialmente, ele permite a detecção rápida e precisa do microrganismo e o seu perfil de resistência antimicrobiana, imprescindíveis para o diagnóstico correto, prevenção da disseminação, monitoramento dos casos e cepas resistentes. Além do mais, levam ao tratamento adequado dos pacientes e notificação específica dos casos para o controle epidemiológico.
Isso reduz as taxas de morbidade e mortalidade por IRAS, além de reduzir custos hospitalares.
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