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Doenças Autoimunes: Porque são chamadas assim e os avanços nas pesquisas

06/09/2018
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As doenças autoimunes (DAI) ocorrem quando nosso sistema imunológico passa a produzir anticorpos contra componentes do nosso próprio organismo atacando, por motivos variados e nem sempre esclarecidos, os tecidos e células sadias do nosso corpo. Essa desordem imunológica é caracterizada pela diminuição da tolerância a substâncias e componentes do próprio organismo, razão pela qual, o corpo confunde suas próprias proteínas com agentes invasores.

Para entendermos melhor essa estranha reação do nosso organismo, é preciso entender um pouco sobre o nosso sistema imunológico.

Existem mais de 100 tipos de doenças autoimunes e nenhuma delas tem cura

HLA e o Sistema Imunológico

O sistema imunológico tem a função de identificar e reagir a organismos estranhos. Este processo é baseado na identificação dos antígenos, a “marca biológica” de cada célula. Quando o organismo reconhece um antígeno estranho, desencadeia uma resposta com o objetivo de destruí-lo. Nos seres humanos, o complexo dos Antígenos Leucocitários Humanos (HLA – Human Leukocyte Antigen) é o responsável por esse minucioso trabalho.

A principal característica do complexo HLA é o seu polimorfismo. O HLA é composto por diferentes locos divididos em Classes I, II e III. Cada classe possui seus respectivos genes e alelos. Sabe-se que mais de 18 mil alelos já foram identificados em todo o mundo (http://hla.alleles.org/nomenclature/stats.html). O entendimento desse polimorfismo é substancial para a compreensão de como o HLA é relacionado com doenças autoimunes, com a evolução das espécies, e, também, para a seleção de doadores em transplantes de órgãos.

O que vem confundindo os especialistas, é porque certas variantes do gene HLA aumentam drasticamente o risco de se desenvolver uma doença autoimune, enquanto outras variantes do HLA fornecem níveis impressionantes de proteção.

Como a incidência de doenças autoimunes está aumentando, outros fatores e sua relação com nosso organismo estão sendo estudados por especialistas. A influência hormonal, a influência de microrganismos presentes em nosso corpo e os fatores ambientais, como a exposição prolongada a produtos químicos, são alguns dos exemplos.

Entendendo as Doenças Autoimunes

Dados mostram que cerca de 3% a 5% da população em geral é afetada por doenças autoimunes. Sabe-se também que algumas etnias são mais suscetíveis dependendo da doença. Essa susceptibilidade está relacionada com o histórico genético e a fatores ambientais.

Um fato interessante é que 80% dos casos reportados de doenças autoimunes são encontrados em mulheres em idade reprodutiva, mostrando também a importância dos hormônios. Um estudo publicado em abril de 2018 na revista “Science Signaling” mostra que o fato das mulheres apresentarem risco maior de desenvolver uma doença autoimune pode estar relacionado em um receptor de estrogênio localizado em células de defesa do corpo. Esse componente intensifica a ação do estrogênio que leva o sistema imunológico a atacar o próprio organismo. Muitas pesquisas já tinham indicado que o hormonio contribui para o desenvolvimento de doenças autoimunes, mas faltava uma explicação sobre a razão disso. Com esse resultado, é possível pensar em tratamentos para doenças autoimunes com base na inibição do receptor de estrogênio em células de defesa do corpo.

Outro estudo da Universidade de Yale relaciona as reações autoimunes com uma bactéria intestinal chamada Enterococcus gallinarum. A resposta autoimune, diz o artigo publicado na revista científica Science, é acionada quando a bactéria migra espontaneamente do intestino para outros órgãos do corpo, como baço, fígado e gânglios linfáticos. A pesquisa foi feita em ratos geneticamente alterados para serem susceptíveis a doenças autoimunes. Além de identificarem a causa, os pesquisadores desenvolveram um método eficaz de reduzir os sintomas autoimunes. Usando antibióticos ou uma vacina, eles conseguiram reduzir os sintomas por meio da inibição do crescimento da Enterococcus gallinarum. A esperança é que essa pesquisa consiga se desenvolver para tratamentos de sucesso para algumas doenças autoimunes, incluindo a hepatite autoimune e o lúpus.

Como se Manifestam as Doenças Autoimunes

A gravidade de uma doença autoimune depende dos órgãos e tecidos afetados. Glândulas endócrinas são mais frequentemente afetados, como a tireoide e o pâncreas. Componentes do sangue, como glóbulos vermelhos e plaquetas, podem ser comprometidos. Articulações, tecidos conjuntivos, pele e músculos também podem ser alvos dessas doenças. As doenças autoimunes também podem ser sistêmicas, como o lúpus. E muito graves, quando atacam órgãos e estruturas nobres do corpo, como o sistema nervoso central, coração, pulmões e/ou os vasos sanguíneos.

Exemplo 1

no diabetes tipo 1 ocorre uma produção inapropriada de anticorpos contra as células do pâncreas que produzem insulina, levando a sua destruição e ao aparecimento do diabetes.

Exemplo 2

na esclerose múltipla, o sistema imunológico começa a produzir anticorpos contra componentes dos neurônios, causando destruição dos mesmos e graves problemas neurológicos.

Exemplo 3

na tireoidite de Hashimoto, o corpo passa a produzir anticorpos contra a nossa própria glândula tireoide, destruindo-a, levando o paciente a desenvolver hipotireoidismo.

Infelizmente não há como ter precisão nos sintomas de uma doença autoimune. Muitos se assemelham a outras doenças. Outras vezes, a mesma doença pode apresentar sintomas diferentes em duas pessoas, por isso um diagnóstico preciso pode levar em média, cerca de cinco anos. Para algumas doenças, que possuem o marcador genético bem definido, existe a possibilidade do diagnóstico molecular. Porém, o exame é realizado somente para a confirmação efetiva da doença de forma mais precisa, auxiliando na investigação em casos de pacientes que os sintomas clínicos já foram confirmados.

Avanços no tratamento

Cientistas buscam alternativas para o tratamento de pacientes em estágios avançados de algumas doenças autoimunes. Novos remédios biológicos e intervenção genética estão entre as opções que vêm sendo testadas.

Diferentemente de um medicamento sintético, o biológico surge de mecanismos vivos, porções do sistema imunológico e exige um processo de fabricação mais minucioso. Ele tem moléculas maiores, como anticorpos e proteínas e desencadeia respostas mais complexas do sistema de defesa. Mesmo mais dispendiosos, esses medicamentos são uma economia no sentido da efetividade, além de aumentar a qualidade de vida.

Recorrer a técnicas de edição genética também desponta como uma área de pesquisa promissora para as enfermidades autoimunes graves. A interação com o DNA serviria para avaliar se a doença autoimune vai se desenvolver ou para escolher o medicamento mais indicado.

Uma terceira área que está sendo explorada por cientistas é o uso de medicamentos biológicos para intervir antes do estágio crítico da reação autoimune.  É testado qual o estágio da doença e colocado anticorpos para agir, fazendo uma espécie de interceptação. O principal objetivo dessa terapia é fazer com que as abordagens se tornem cada vez mais individualizadas.

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