Dia 14 de março é comemorado o Dia Mundial do Rim, neste ano o tema escolhido para este dia é “saúde dos rins para todos”, abordando a necessidade de aumentar a conscientização sobre a alta e crescente presença de doenças renais em todo o mundo.
“O rim é responsável por regular a composição e a pressão sanguínea, remover resíduos (ureia, amônia, drogas, substâncias tóxicas), manter o volume adequado de água e o nível de cálcio do corpo. Além disso, eles conservam as concentrações contínuas de ácido, evitam a anemia e aumentam a produção de vitamina D”, explica a nefrologista Amélia Trindade, do Ministério da Saúde.
Segundo a Sociedade Brasileira de Nefrologia, estima-se que haja 850 milhões de pessoas com doença renal no mundo, sendo que a doença renal crônica (DRC) causa pelo menos 2,4 milhões de mortes por ano.
A Injúria Renal Aguda (IRA), quando os rins perdem a capacidade de filtrar resíduos, afeta mais de 13 milhões de pessoas no mundo, e 85% dos casos ocorre em países de baixa renda. Cerca de 1,7 milhões de pessoas falecem todos os anos por conta da IRA.
Algumas condições podem aumentar a suscetibilidade para DCR, tais como:
A hipertensão arterial é comum na DRC, podendo ocorrer em mais de 75% dos pacientes de qualquer idade.
Os pacientes diabéticos apresentam risco aumentado para DRC e doença cardiovascular, devendo ser monitorados frequentemente para a ocorrência da lesão renal.
A diminuição fisiológica da filtração glomerular (FG) e, as lesões renais que ocorrem com a idade, secundárias a doenças crônicas comuns em pacientes de idade avançada, tornam os idosos mais suscetíveis a DRC.
A doença cardiovascular é muito presente em pacientes com doença renal crônica, sendo a principal causa de óbito nesta população.
Os familiares de pacientes portadores de DRC apresentam prevalência aumentada hipertensão arterial, diabetes mellitus, proteinúria e doença renal.
Além do que foi citado acima, outros fatores externos acabam contribuindo para o aparecimento ou agravamento da doença renal, falta de informação, falta de cuidado clínico ou até mesmo pela poluição.
O Journal of the American Society of Nephrology publicou em 2017 um estudo que trouxe a relação entre a poluição do ar e danos aos rins, em uma investigação com mais de 2 milhões de veteranos militares norte-americanos em um período de 8 anos.
Os resultados mostraram que à medida que a exposição à poluição atmosférica em partículas aumenta, também cresce o risco de menor função renal, doença renal e insuficiência renal. Nos Estados Unidos, 2.438 novos casos de insuficiência renal estão associados à poluição, que excede o limite recomendado pela Agência de Proteção Ambiental (EPA), segundo resultado do estudo.
O transplante é considerado o tratamento com melhor relação custo-benefício para a doença renal crônica, pois dispensa o paciente de ficar cerca de 20 horas semanais em hemodiálise ou diálise peritoneal. No entanto, há um longo caminho para que o transplante aconteça, pois há necessidade de infraestrutura hospitalar adequada, equipe especializada em transplantes, disponibilidade de doadores de órgãos e diálise durante a espera.
Segundo dados do Sistema de Informações Gerenciais (SIG) do Sistema Nacional de Transplantes (SNT) e SIG/SP, a lista de espera de potenciais receptores ativos ou semiativos de rins no Brasil chegou a 23.313 em janeiro de 2019.
E ainda para aqueles que conseguem um novo rim, uma série de cuidados precisam ser tomados antes e depois do transplante para que não surjam outras doenças.
Para que o corpo não rejeite o órgão transplantado, o paciente precisa tomar imunossupressores, que tem a função de “enganar” o sistema imunológico para evitar a rejeição do órgão, visto pelo organismo como um corpo estranho.
Os pacientes submetidos a um transplante de rim necessitam de uma atenção especial quanto ao vírus BKV, que são comumente associadas a infecções do trato geniturinário podendo causar nefrite intersticial, estenose ureteral, infecção sistêmica, câncer de bexiga e a disfunção progressiva e perda do enxerto, frequentemente confundido com a rejeição.
Por isso, é fundamental o monitoramento preventivo pelo diagnóstico molecular de microrganismos oportunistas, pois com a defesa do corpo comprometida, os sintomas e complicações tornam-se muito mais graves. Aumentando consideravelmente a taxa de mortalidade em transplantados.
A precisão e a alta sensibilidade do teste molecular permitem a detecção de vírus e bactérias em amostras onde geralmente não são percebidos, aumentando as chances de um diagnóstico preciso.
O nefrologista Pedro Pinheiro explica que não existe mágica para prevenir doenças renais, mas alguns hábitos podem ser evitados ou controlados:
Ter a pressão arterial persistentemente acima dos 140/90 mmHg é um dos mais importantes fatores de risco para lesão dos rins. Quanto mais elevada for a pressão, maior é o risco.
O diabetes é a principal causa de insuficiência renal crônica no mundo. Quanto mais descontrolado estiver o diabetes e quanto mais anos de doença o paciente tiver, maior é o risco de lesão dos rins. O diabetes não pode ser curado, mas ele pode ser controlado.
Alguns medicamentos muito populares podem ser nefrotóxicos, ou seja, tóxicos para os rins. O mais comum são os anti-inflamatórios. O consumo de qualquer anti-inflamatório de forma frequente e por tempo prolongado pode causar lesão nos rins.
Há cada vez mais evidências de que os inibidores da bomba de prótons (omeprazol, esomeprazol, lanzoprazol, etc.) podem causar lesão nos rins, se usados de forma crônica.
Níveis muito elevados de ácido úrico, principalmente acima de 10 mg/dl, estão associados a um maior risco de lesão renal, principalmente se o paciente tiver gota. Portanto, o controle do ácido úrico, seja através de medicamentos ou com uma dieta pobre em purina, é uma importante medida.
Além do cigarro ser prejudicial a outros órgãos, os indivíduos que fumam também têm maior risco de desenvolver insuficiência renal crônica.
A obesidade também está associada a um maior risco de doença renal crônica. Todos os indivíduos com IMC acima de 30 kg/m² devem procurar perder peso.
Nos homens com mais de 60 anos, a hiperplasia da próstata pode ser uma causa de doença renal, por isso, uma avaliação do urologista é importante.
Como a insuficiência renal crônica é uma doença silenciosa, é importante detectá-la de forma precoce. Análises de urina e a dosagem da creatinina sanguínea são as únicas formas de detectar a doença renal nas fases assintomáticas.
Se você tem forte histórico familiar de doença renal, faça uma visita ao médico nefrologista para que ele possa fazer um check-up, de forma a identificar precocemente qualquer sinal de problemas nos rins.