A ciência dá mais um passo no entendimento do comportamento sexual humano. Pesquisa feita no Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) mostra que embora tenham caído diversos tabus, ainda existem muitas diferenças entre a mulher e o homem brasileiros quando o assunto é sexo.
A pesquisa Mosaico 2.0, coordenada pela psiquiatra Carmita Abdo, do Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex) do IPq, ouviu 3 mil participantes com idade entre 18 e 70 anos, divididos em cinco faixas etárias. Foram entrevistadas pessoas de sete regiões metropolitanas: São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Salvador, Belém, Porto Alegre e Distrito Federal.
Apesar do sexo ter sido considerado essencial para ambos os gêneros, a pesquisa apontou que a expectativa quanto à frequência ideal de relações sexuais divergiu. Para 95,3% dos entrevistados, o sexo é importante ou muito importante para harmonia do casal; desses, 96,2% eram homens e 94,5%, mulheres. Em relação à quantidade, a resposta mais escolhida pelas mulheres foi “três vezes” quando perguntadas sobre o número ideal de relações por semana, enquanto que os homens escolheram a opção “oito vezes”.
Desconsideradas as expectativas, o desejo de se fazer sexo com mais frequência não coincide com a realidade das pessoas que vivem em capitais metropolitanas. A rotina atribulada, a correria do dia a dia e o cansaço afetam o desejo sexual do brasileiro. Os homens relataram ter relação sexual “três vezes por semana”, enquanto que as mulheres disseram “duas vezes”. Nesse quesito, somente o Rio de Janeiro e Salvador divergiram das outras capitais: a resposta predominante foi “duas vezes”.
Sobre as preocupações que rondam a cabeça das pessoas quando se trata de sexo, encontram-se no topo da lista as “possibilidades de contrair doenças”, opção escolhida pelas mulheres, e o “temor de não satisfazer a parceira”, opção marcada pelos homens. O receio de ser contaminado por doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) foi um fator também considerado preocupante para os jovens entre 18 e 25 anos. Segundo Carmita, são eles os que mais se previnem durante as relações sexuais, com índice de 36%.
O prolongamento da vida sexual somado às práticas inseguras têm refletido no aumento de ocorrências das DSTs entre os idosos. Um fator alarmante levantado pela pesquisa foi o baixo uso de preservativos entre os parceiros com mais de 60 anos. Somente 10% desse grupo disse se proteger durante a relação sexual. Carmita Abdo relaciona o mau hábito à tendência de crescimento no número de idosos contaminados pelas DSTs nos últimos anos.
Alguns estudos norte-americanos mostram que os casos de DSTs entre pessoas idosas dobraram na última década. No Brasil, o Ministério da Saúde não tem dados computados sobre o assunto porque a notificação não é obrigatória. Somente a aids que tem registro epidemiológico estimado, e teve o número de casos aumentado em 103% entre os anos de 2000 e 2010.
Os dados originados pelo trabalho ficarão disponíveis para fomentar outras pesquisas e subsidiar políticas públicas voltadas à área da saúde. Carmita recomenda que sejam produzidas campanhas direcionadas de incentivo ao uso do preservativo, segmentadas por faixa etária e grupo específico de pessoas. Como elas acontecem hoje, de forma genérica e somente durante o carnaval, não têm eficácia alguma, afirma a médica.
Embora a sexualidade não deva ser atribuída apenas à educação formal, Carmita defende a inclusão do tema no currículo escolar do ensino superior nas áreas pedagógicas e de saúde. Por falta de formação, os profissionais não estão preparados para lidar com as angústias dos pacientes e dos alunos que chegam ao consultório e à sala de aula, respectivamente
Informações de Jornal da USP