A biologia molecular (BioMol) é a área da biologia que estuda os organismos do ponto de vista molecular, focando na base de todos organismos, as famosas moléculas de ácidos nucleicos, os RNAs e DNAs.
Nascida da junção dos ramos da genética, da bioquímica e da biologia celular, a BioMol é um campo que visa compreender e estudar os processos de replicação, transcrição e tradução do material genético, assim como as regulações desses processos e seus possíveis erros e características.
Dentre suas diversas aplicações, podemos contar com a biologia molecular para o diagnóstico de doenças infecciosas, oncológicas e mutações genéticas.
Saiba mais sobre diagnóstico molecular com a Aline Leck, bióloga formada pela UFPR (Universidade Federal do Paraná), pós-graduada em Biotecnologia e Bioprocessos pela UEM (Universidade Estadual de Maringá) e Assessora Científica da Mobius Life Science.
O diagnóstico molecular baseia-se em técnicas consagradas da biologia molecular como a PCR (reação de cadeia em polimerase) e suas variações visando a investigação de alvos de interesse a partir da análise do material genético, o DNA e o RNA.
Nós investigamos a presença do material genético de microrganismos alvos, de genes de resistência a antibióticos, ou ainda mutações e alterações genéticas.
Os alvos de interesse podem ser patógenos causadores de infecções ou doenças e o material genético do próprio indivíduo para verificação de alterações ou mutações genéticas.
Para estas análises é preciso escolher o tipo adequado de amostra biológica.
Existem diversas vantagens em relação ao uso do diagnóstico molecular quando comparado com outras metodologias muito utilizadas ainda hoje.
O diagnóstico molecular permite atingir precisão elevada devido a especificidade e sensibilidade desenvolvida nos kits de detecção. Além disso, a metodologia é comumente mais rápida que as técnicas ditas gold standard, ou “padrão ouro”, que são técnicas referência e de altíssima qualidade em seus campos investigativos. Porém, uma das grandes desvantagens dessas técnicas é o tempo necessário para obtenção dos resultados.
Por exemplo, na microbiologia o gold standard é a cultura bacteriana, na qual é feito o crescimento bacteriano em placa e aguarda-se o tempo necessário para investigação do patógeno e realização do antibiograma. Para tanto, é preciso um longo período.
Se utilizarmos a biologia molecular, é possível reduzir o tempo de diagnóstico para 2 a 4 horas.
É sempre recomendado utilizar as metodologias em paralelo, ou seja, realiza-se o teste molecular e também o gold standard, visando assim um resultado completo e assertivo.
Como citamos, as características no diagnóstico molecular são vantajosas na investigação de infecções.
Através deste diagnóstico é possível detectar quantidades baixíssimas dos alvos de interesse, além da alta exatidão e rapidez, gerando resultados assertivos e que podem ser rapidamente utilizados para a conduta de tratamento dos pacientes.
Os testes moleculares são amplamente utilizados em instituições de pesquisa e hospitais referência, como a FIOCRUZ, Hospitais das Clínicas, instituições privadas e laboratórios apoios.
Estes fazem uso de diversos tipos de testes moleculares, comerciais e in house, para investigação de patógenos, doenças hereditárias, mutações, entre outros.
Além disso, existem programas para o uso de testes moleculares na rede pública de saúde. Como exemplo, podemos citar o diagnóstico rápido da tuberculose (TB), por meio do projeto Rede de Teste Rápido para Tuberculose (RTR-TB), que utiliza a técnica de PCR em tempo real.
Após a detecção do TB, pode-se realizar o aprofundamento por meio da investigação dos genes de resistência utilizando as fitas Hain.
Mesmo com todo este avanço, é preciso difundir o uso do diagnóstico molecular nas diferentes regiões do Brasil, pois ainda há amplo espaço para implementação destes ensaios.
Mutações ou alterações genéticas são alvos do diagnóstico molecular, como exemplo a cascata de coagulação sanguínea. Essa investigação tem grande importância para gestantes, a fim de evitar episódios de trombofilia e abortos espontâneos, assim como para indivíduos que passarão por algum procedimento cirúrgico.
Voltando-se para investigações oncológicas os testes moleculares são utilizados para detecção de translocações, como o gene oncológico BCR/ABL, associado ao desenvolvimento de alguns tipos de leucemias.
Quando direcionamos nosso olhar para a infectologia, há uma gama enorme de alvos. Por exemplo, pode-se investigar patógenos diretamente relacionados ao processo de transplante. O CMV, EBV e BKV são alvos interessantíssimos para o monitoramento, visto que é necessário conhecimento da carga viral presente no organismo para controle e eficiência do transplante.
Além dos mencionados acima, infecções sexualmente transmissíveis, infecções respiratórias, encefalites, meningites, gastroenterites, entre outras, apresentam patógenos associados. Assim, o uso dos testes moleculares permitem detectar o agente causador.
Com certeza, há sempre a possibilidade de ampliação. No caso do HPV, há técnicas clássicas como a captura híbrida e o Papanicolau, mas pode-se aprofundar este diagnóstico através da biologia molecular. Inclusive, especificar qual o subtipo de HPV e se este é um alto ou baixo risco. Isso permite maior eficiência no monitoramento do paciente.
Cabe ressaltar a importância do uso das profilaxias para infecções sexualmente transmissíveis, como a vacina para o HPV, já disponíveis para homens e mulheres e para os principais subtipos.