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Entrevista: Dr. Vinhal explica tudo sobre a vacinação da Covid

18/05/2021
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O início da vacinação da Covid no país representa um alívio para muitos brasileiros.

Ao mesmo tempo, muitas pessoas ainda têm dúvidas sobre o processo todo de vacinação.

Para falar sobre estas questões, convidamos o Dr Fernando Vinhal que é médico com doutorado em Imunologia e Parasitologia Aplicadas pela Universidade Federal de Uberlândia. Ele também é diretor técnico do laboratório HLAGyn. Ele tem experiência na área de medicina com ênfase em imunologia, atuando principalmente nos seguintes temas: transplantes, histocompatibilidade, doenças infecciosas e parasitárias.

Bioemfoco – Por que devemos tomar a vacina da Covid?

Dr Fernando Vinhal – A vacina é a única forma de proteção ou a única forma de interferência na atividade das doenças, ou dos parasitas envolvidos. Quando nós programamos nosso sistema imune para reconhecer de uma forma que não há uma doença, isso então poderia nos fortalecer e a estar preparados para reconhecer qualquer tentativa de invasão.

Bioemfoco – Os imunizantes atualmente disponíveis no Brasil precisam ser tomados em 2 doses. O que acontece se não tomar a 2ª dose?

Quando há um desenho para se fazer uma vacina é tudo programado. Programado no sentido de qual a idade das pessoas a serem vacinadas, qual a condição de comorbidade que ela está envolvida, se é ou não gestante, e também a programação da qualidade da vacina e de como ela deve ser apresentada. Há vacinas que não necessitam de duas doses. Por exemplo, para a Covid-19 temos a vacina da Johnson que é uma única dose. Desde o planejamento, do desenho dessa vacina, foi programado ser uma única dose. Ou seja, toda a resposta imunológica envolvida para atuar nessa vacina estava desenhada para atuar em uma única dose.

As demais vacinas necessitam de duas doses. O planejamento para vacina de duas doses normalmente se baseia na resposta imune que nós temos. Nós temos uma resposta imune primária, que é um reconhecimento inicial, onde há um conhecimento do agente invasor, processamento e informação para nosso sistema de defesa. Quando a gente faz uma segunda dose, nós estamos reforçando e elevando em muitas vezes a capacidade de resposta do sistema imune. Ou seja, deixando-nos ativos caso haja uma tentativa de invasão, uma terceira tentativa de invasão: a primeira e a segunda pela vacina e a terceira pela doença propriamente dita.

O intervalo entre as doses é desenhado no próprio projeto. Então tem vacinas que desenham para se fazer com 15 dias, outras com três semanas, três meses e assim por diante. Isso também não impede que o desenho da vacina possa ser modificado com a observação que é realizada ao longo do tempo.

A gente viu com a Covid-19 que nós tivemos uma vacina que foi observado aqui que em um intervalo maior ela estava respondendo com uma melhor quantidade de anticorpos fabricados.

Resumindo, quando ela foi definida em duas doses, ela foi definida por sua base e deve ser seguida de acordo com o fabricante, para que a gente não tenha surpresa de não ter um funcionamento ideal da vacinação da Covid.

Bioemfoco – Algumas pessoas falam que mesmo tomando a segunda dose pegaram Covid. Isso é possível?

Sim, inclusive pessoas que estão tomando a vacina e depois pegam Covid. Estou com Covid por causa da vacina? Não. As vacinas são testadas, avaliadas. Nós agora estamos com a polêmica da Anvisa com a vacina russa em que há presença de vírus replicante. A nossa Anvisa é muito séria, ela pede detalhes de cada passo do desenvolvimento da vacinação da Covid. Isso é muito importante saber se esses agentes da vacina são prejudiciais ou se nos ajudarão.

Não há essa observação de que a vacina tenha alguma transmissão. O paciente ele toma a vacina, ele vai desenvolver a fase inicial de uma resposta. Estamos observando em nossos estudos que a primeira dose já tem uma quantidade de anticorpos bem elevada. Mas após a segunda dose em torno de 30 a 40 dias é que nós vamos estar com uma forma ideal de quantidade de anticorpos de defesa para enfrentar uma verdadeira invasão por um vírus selvagem. Então é a partir desse período que a gente estaria protegido.

Mas antes disso eu posso pegar a Covid? Sim, pode. Infelizmente, esse vírus é muito simples no desenho dele em si. Toda vez que ele vai fazer uma multiplicação, ele comete alguns erros em suas cópias, nos seus descendentes, e isso a gente chama de mutações.

Então toda a vez que ele vai replicar, quando transmite de uma pessoa para outra, ele comete esses erros, em média de 8 a 30 erros entre uma e outra amostra analisada. Isso é pouco para vírus de RNA mas é muito para nossos desafios, vamos dizer assim.

Ao sermos expostos a estas novas variantes, a gente pode contrair porque a nossa defesa foi preparada para reconhecer um determinado tipo de vírus. Depois uma mudança pequena ou outra ela vai passar desapercebida e você vai ter uma capacidade de contrair uma infecção por alguns desses vírus mutantes.

“Quando nos vacinamos a gente quer evitar o que? Queremos evitar infecção, a doença ou complicações?”

Também é interessante a gente observar qual o grau de proteção a gente quer. Quando nos vacinamos a gente quer evitar o que? Queremos evitar infecção, a doença ou complicações? Estes são termos técnicos, mas é interessante a gente discutir. Como eu disse, o vírus é capaz de infectar, de entrar em nosso organismo. Mas ele é de uma simplicidade tão grande que ele não é capaz de gerar uma doença, ou seja, complicações. A resposta do organismo inativa de forma mais global esse vírus, essa tentativa de invasão. Consequentemente nós vamos ter um mal-estar, às vezes, um pouquinho de febre, mas não vamos ter aquela complicação maior da Covid, que são aquelas infecções inflamatórias, vasculares, complicações pulmonares e renais.

Ou seja, todas as vacinas têm se mostrado capaz de evitar a doença, mas às vezes ela não é capaz de evitar a infecção.

Nós temos observado em trabalho recente que 10% das pessoas que foram vacinadas, nesse grupo que pesquisamos, foram infectadas por essa cepa que é predominante no Brasil, chamada de P1. Esse é um vírus muito agressivo, no entanto, não foi capaz de levar nenhuma dessas pessoas vacinadas a ter doença de forma grave. Ou seja, então a vacinação da Covid conferiu um grau de proteção da doença satisfatório.

Temos que estar atentos que uma vez vacinados temos que manter a proteção. Então, temos que andar sempre de máscara, ainda com distanciamento entre as pessoas que não são de nosso convívio social, que pode ser a entrada de novas infecções.

Bioemfoco – Quem já teve Covid precisa tomar vacina?

Eu tive Covid na forma grave, no entanto, fiquei esperando a vacina ansiosamente. A primeira oportunidade que eu tive, quando atingiu a minha classe trabalhista que a gente está sempre exposto a infecção, e assim que eu tive a oportunidade, eu me imunizei.

Mesmo sabendo que eu tinha anticorpos circulantes, quanto mais estímulo ao sistema imune, maior o ensino para nosso sistema e capacidade de resposta.

Então a resposta é sim, todas as pessoas que tiveram Covid estão indicadas a serem imunizadas como uma forma de reforço.

Outra coisa, nós não sabemos quanto tempo dura a nossa capacidade de resposta imunológica para esse vírus. Na vigilância genômica a gente observa que há uma queda dos anticorpos produzidos após a infecção em determinados grupos de pacientes. Então, quem pegou Covid em dezembro 2019, por exemplo, será que ainda tem anticorpos circulantes para proteger? Eu deveria fazer um exame de anticorpos circulantes para a vacinação da Covid? É impraticável fazer esse rastreamento.

O ideal é fazer uma imunização em massa mesmo em quem já teve a doença para evitar uma nova infecção até mesmo por cepas diferentes.

Há casos de reinfecções. A gente está vendo no Brasil que tem em torno de 5 cepas por aí, e a P1 foi capaz de reinfectar algumas pessoas que já tinham tido Covid. Ou seja, quanto melhor o desenvolvimento do sistema imune com a vacinação da Covid melhor é a infecção para evitar novas doenças.

“A [cepa] P1 foi capaz de reinfectar algumas pessoas que já tinham tido Covid. Ou seja, quanto melhor o desenvolvimento do sistema imune com a vacinação da Covid melhor é para evitar novas doenças.”

Bioemfoco – Existe um teste para verificar se o paciente desenvolveu anticorpos após a vacina. Como esse teste pode ser feito?

Os testes em Covid antes não existiam, saímos do zero em dezembro de 2019 e passamos a desenvolver vários testes, no sentido de diagnóstico para a Covid-19. Felizmente a ciência teve um avanço estrondoso na Covid, ou seja, todos se juntaram para o diagnóstico. Hoje já temos definidos alguns pontos no diagnóstico e o acompanhamento da Covid.

Os testes de acompanhamento pós-Covid, no sentido de você verificar a sua resposta imunológica se ela está apta ou não para o enfrentamento de uma tentativa de invasão, se baseia na verificação dessa resposta imune. Nós temos testes que vão verificar a presença de anticorpos circulantes.

Os testes existentes que começaram a ser desenvolvidos lá no início, até com o induto de diagnóstico da doença, eles são muito pouco específicos. A evolução dos testes que permitem acompanhamento, a gente conhece que o vírus tem um ponto de entrada na célula de nosso organismo que é uma região chamada Proteína S. Dentro dessa proteína S tem um ponto de ligação da proteína com a célula. É como se fosse uma chave e fechadura, é como se ele tivesse a chave para entrar dentro de nossa célula. Se eu conhecer a resposta imune contra essa chave é quase que eu dizer que a pessoa tem anticorpos para evitar que essa chave seja utilizada. Os testes que observam essa presença de anticorpos são chamados de testes que tem a identificação de um anticorpo neutralizante, por isso, são chamados de testes de anticorpos neutralizantes.

Dentro desses exames existe uma série grande também. Mas nós temos que tomar alguns cuidados nessa análise. É sempre de bom tom a gente observar o teste que está sendo feito, onde está sendo feito, qual é a qualidade que este teste foi produzido.

Assista a entrevista completa:

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