
Infecções bacterianas severas são frequentemente ignoradas ou subestimadas, mas a realidade de sua gravidade tem preocupado órgãos de saúde pública em todo o mundo. Além disso, esses casos têm recebido maior destaque na mídia, sendo evidenciados por celebridades que desenvolveram quadros agravados.
É o caso da cantora Anitta, que em junho desse ano teve que cancelar um de seus shows para receber tratamento com antibióticos diretamente na veia.
Em 2023, a cantora Madonna também precisou adiar sua turnê mundial em comemoração aos 40 anos de carreira por conta de uma infecção do gênero. A artista chegou a ficar internada na UTI.
Casos com celebridades têm colocado holofotes sobre um problema de nível mundial. O alto índice de internamentos e óbitos relacionados às infecções bacterianas severas.
Mas afinal de contas, o que são as infecções bacterianas severas
Essas infecções ocorrem quando microrganismos patogênicos se proliferam rapidamente, desencadeando uma inflamação intensa que atinge os órgãos vitais e pode levar à morte.
Por isso, os profissionais de saúde precisam agir com rapidez e agilidade no tratamento. Uma das opções utilizadas é a medicação venosa, aplicada diretamente na veia, o que permite controlar os níveis de infecção de forma mais rápida e eficaz.

Além disso, antibióticos via oral também são alternativas, com protocolos de maior duração, que variam de 7 a 14 dias.
Dentre os principais sintomas desse tipo de distúrbio estão:
- Febre;
- Confusão mental;
- Taquicardia;
- Extremidades do corpo como pés e mãos com coloração esbranquiçada ou arroxeada;
- Sonolência;
- Respiração acelerada ou ofegante;
Prepara, que agora, é hora…….. de saber o que as infecções bacterianas severas têm a ver com sepse
Um dos grandes riscos das infecções bacterianas severas é que elas podem desencadear a sepse, uma resposta descontrolada do organismo a uma infecção.
Nesse processo, o sistema imunológico combate a bactéria com tanta intensidade que acaba atacando o próprio corpo, danificando órgãos e tecidos em vez de protegê-los.
Quando isso acontece, o relógio começa a correr ainda mais rápido. É necessário identificar o quanto antes o patógeno causador, por meio de diagnósticos moleculares, para que então a medicação adequada seja indicada.
Se isso não ocorre rapidamente, o paciente pode vir a sofrer de falência múltipla dos órgãos.
Por isso que não dá para encarar uma infecção apenas como “mais uma”. Diversas vezes, a sepse surge como algo “pequeno”, desde uma infecção urinaria até uma pneumonia que não foi tratada corretamente.
Top 5 “Vilãs” bactérias mais letais
De acordo com o estudo “Global mortality associated with 33 bacterial pathogens in 2019”, publicado na The Lancet, em 2019, houve cerca de 13,7 milhões de mortes relacionadas a infecções das quais 7,7 milhões eram atribuíveis a 33 patógenos bacterianos.
E nessa lista, cinco bactérias se destacam pela letalidade dentro dos casos contabilizados. São elas:
1. Escherichia coli (E. coli)
Frequente em infecções urinárias e intestinais, é uma bactéria gram-negativa. A maioria da cepas é considerada inofensiva, mas algumas delas podem desencadear desde infecções no trato urinário até diarreia grave.
Além disso, em casos mais graves, pode desencadear processos infecciosos críticos , como a síndrome hemolítico-urêmica.
2. Staphylococcus aureus
É considerada a bactéria mais perigosa de todas entre as estafilocócicas mais comuns. Pode causar desde infecções cutâneas até pneumonias graves.
Um dos grandes fatores que a torna uma das mais perigosas é sua resistência a certos antibióticos.
3. Klebsiella pneumoniae
Bactéria pertencente ao grupo das Enterobacteriaceae, é comum em infecções hospitalares. Normalmente, é encontrada no trato gastrointestinal humano.
4. Streptococcus pneumoniae
O patógeno, pertencente ao gênero Streptococcus e classificado como uma bactéria Gram-positiva, causa diretamente doenças como meningite e pneumonia.
5. Pseudomonas aeruginosa
Presente com frequência em ambientes hospitalares, essa bactéria se mostra altamente resistente e representa uma ameaça constante nas UTIs. Ela provoca uma série de infecções que vão desde quadros leves até casos extremamente graves.
Além dela, milhares de outros patógenos circulam diariamente e, quando não tratados da forma correta, podem evoluir para infecções bacterianas severas que exigem protocolos mais intensivos.
Nesse cenário, os antibióticos assumem um papel fundamental no combate às bactérias e na contenção da infecção
Antibiótico: o herói sem capa, que pode se tornar o vilão
Os antibióticos foram uma das maiores revoluções da medicina moderna. O primeiro deles, a penicilina, foi descoberto por Alexander Fleming em 1928.
De lá para cá, diversos outros foram desenvolvidos, e eles são essenciais para o tratamento de infecções. No entanto, dependendo da forma como eles são prescritos, eles podem sair de aliados para se tornarem vilões.

A lógica é simples: quanto mais um antibiótico é usado sem necessidade, maior a chance de as bactérias “treinarem” para resistir a ele. E, quando isso acontece, infecções que antes eram simples de tratar passam a ser muito mais perigosas, as chamadas superbactérias.
De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS,) se medidas não forem tomadas para evitarem o uso indiscriminado desses medicamentos, em 2050, uma pessoa morrerá a cada três segundos em consequência de agravos causados por resistência aos antimicrobianos.
Para se ter uma ideia da necessidade de medidas que impeçam que os antibióticos sejam utilizados de forma inadequada, de 2000 a 2010 foi registrado um aumento de 36% no consumo de antimicrobianos.
Não de “palco” para as superbactérias
As superbactérias mantêm uma ligação direta com as infecções bacterianas severas. Isso porque, ao utilizar antibióticos de forma inadequada para tratar distúrbios leves, que poderiam ser resolvidos com outras abordagens, muitas pessoas acabam contribuindo para o surgimento de bactérias mais resistentes. Como consequência, esses microrganismos se fortalecem, aumentando o risco de quadros graves e difíceis de tratar.

O Brasil registrou 4 milhões de casos de infecções hospitalares causadas por bactérias multirresistentes, segundo a revista PLOS Medicine. Com isso, o país figura entre os cinco com maior carga de infecções hospitalares no mundo.
Justamente para não “dar palco” para que as superbactérias surjam é a Resolução RDC 44, de 2010, da Anvisa, proíbe a venda de antibióticos sem a apresentação de receita médica.
Além disso, autoridades de saúde vêm implementando outras medidas importantes. Entre elas estão normas que exigem a retenção da receita médica, diretrizes para o gerenciamento racional de antibióticos e ações contínuas de conscientização, prevenção e combate às infecções. Essas iniciativas visam reduzir o uso inadequado dos antimicrobianos e conter a disseminação de bactérias resistentes.
Ao usar antibióticos de forma responsável, você ajuda a manter essas drogas potentes e evita que infecções banais se tornem crises de saúde global.
Referências
Infecções bacterianas ainda estão entre as doenças que mais matam no mundo – Jornal da USP
Infecções por Staphylococcus aureus – Infecções – Manual MSD Versão Saúde para a Família