O vírus John Cunningham (JCV) pertence à família do poliomavírus humano e foi identificado pela primeira vez em 1965. Este vírus foi batizado com os dois primeiros nomes do paciente diagnosticado com uma doença causada pelo vírus, a leucoencefalopatia multifocal progressiva (LEMP).
Estima-se que cerca de 80% da população tenha este vírus, geralmente sendo infectado na infância de forma assintomática, provavelmente por vias respiratórias. Em um sistema imunológico sadio o JCV não oferece grandes riscos.
Contudo, indivíduos com o sistema imunológico comprometido como portadores de HIV, transplantados ou quem faz tratamento com imunossupressores tem chances de reativar o vírus e levar a LEMP.
Portadores de esclerose múltipla normalmente utilizam como forma de tratamento uma droga chamada de natalizumabe. Seu uso crônico, por mais de dois anos, está associado ao desenvolvimento de LEMP, principalmente em pacientes com JCV positivo.
Quando o JCV é reativado, ele adere aos linfócitos B e adquire a capacidade de atravessar a barreira hematoencefálica (membrana que protege o cérebro), podendo destruir seletivamente oligodendrócitos. Os oligodendrócitos são as células responsáveis pelo suporte e pela nutrição dos neurônios. Sem o recebimento de nutrição, começa um processo danoso na mielina, uma capa de proteção das células nervosas.
Quando isso ocorre, o paciente apresenta alguns sintomas, como disfunções motoras, visuais e na fala; transtornos cognitivo-afetivos; déficit de memória e demência progressiva.
Quando surgem os primeiros sintomas neurológicos sem causa aparente, principalmente em imunodeprimidos, é recomendado que o médico solicite dois tipos de exame: a ressonância magnética e o teste molecular.
Com a ressonância magnética intensificada por contraste, é possível descobrir o dano cerebral por meio da observação de lesões únicas ou múltiplas da substância branca.
Já o teste molecular vai analisar se há DNA viral no paciente. Com o kit XGen Master JCV, é possível com uma amostra de sangue, plasma, líquido cefalorraquidiano ou urina do paciente detectar e quantificar o vírus. Nessa técnica não é necessária a realização de biópsia do tumor, um procedimento mais invasivo e de maior risco para o paciente.
Este tipo de diagnóstico é preciso e rápido, em menos de 24 horas é possível emitir um laudo atestando se há a presença ou não do JCV.
O exame também permite rastrear o curso da infecção e monitorar a resposta ao tratamento.
A progressão da doença é rápida e gradual, culminando com a morte geralmente de 1 a 9 meses após o início dos sintomas.
O tratamento é principalmente de suporte. A suspensão dos imunossupressores pode resultar em melhora clínica. Mas os pacientes que param de tomar essas drogas também têm risco de desenvolver IRIS (síndrome inflamatória de reconstituição imunitária).
Em pacientes com AIDS, a terapia antirretroviral aumenta a taxa de sobrevida em um ano, mas é necessário analisar os riscos dessa conduta. Corticoides também podem ser úteis.